estudar para vencer
PARQUE MUNICIPAL DO MINDU
Por:
Ercilene do Nascimento Silva de Oliveira
Augusto Fachín Terán
https://ensinodeciencia.cms.webnode.com.br/news/parque-municipal-do-mindu/
Entrada do Parque
INTRODUÇÃO
Proteger a natureza é uma preocupação mundial e está presente nos debates das autoridades há muito tempo. Os estudos científicos comprovam o fato de que as florestas cumprem importantes funções tais como: participação nos grandes ciclos ambientais do planeta (ciclo da água, dos climas), valor estético (beleza ou poder de fascinação). e por isso se discute a necessidade de resguardar espaços verdes da ação do homem. Em levantamento feito pela Fundação Vale no ano de 2012 está descrito que há no mundo em torno de 18 a 21 milhões de km² de áreas protegidas, abrangendo 13% de toda a extensão do planeta, isso equivale a somatória dos territórios do Brasil, Austrália e Argentina (FUNDO VALE, 2012, p. 17).
A fim de controlar a ação depredatória na natureza surgiu em 1872 nos Estados Unidos, o movimento mundial de conservação do meio ambiente, sendo criado o primeiro Parque Nacional em Yellowstone. Isto serviu de base para que o mundo começasse a pensar em políticas de preservação, aparecendo na virada dos séculos XIX para o XX alguns parques nacionais no Canadá, Austrália, África do Sul e México (FUNDO VALE, p. 18).
Representação dos povos indígenas
Em 14 de junho de 1937 o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas criou o primeiro parque nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia, localizado entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Este Parque protege uma extensa área de Mata Atlântica (https://www.sosma.org.br/noticias/primeiro-parque-nacional-do-brasil-faz-74-anos/).
Estar em contato com a natureza e ter a possibilidade de andar em trilhas com pavimentação natural ou cimentadas, em meio à floresta amazônica, é uma experiência possível de se viver e com fácil acesso pelos moradores de cidades onde ainda existem fragmentos de floresta preservados. Estas porções de natureza no meio de metrópoles podem ser parques urbanos ou áreas verdes, ambientes com extensões maiores que praças e jardins. E sobre estes espaços o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) (https://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=489) traz a denominação na forma da lei. A resolução de número 369/2006, em seu artigo 8º § 1º, estabelece que os parques são ambientes de domínio público e para tanto colaboram para a melhoria da qualidade ambiental da cidade com uma ampla vegetação em área de preservação permanente.Todos os registros que conduzem as ações de proteção ao meio ambiente no País são norteados pela Constituição de 1988 que, em seu artigo 225, estabelece: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_225_.asp).
Trilha pavimentada para os portadores de necessidades especiais
Os parques são espaços não formais e surgem como locais para a promoção da educação ambiental com visitas orientadas pedagogicamente num ambiente de interação dinâmicos para o ensino e a aprendizagem. Os parques também são locais para o passeio turístico, onde é possível aproveitar a natureza com opções diversas de lazer.
Em Manaus, segundo dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a cidade dispõe de 12 áreas protegidas, sendo 10 designadas como unidades de conservação e 02 como corredores ecológicos. De acordo com a legislação vigente, as funções destas áreas são a sobrevivência de animais e plantas, a regulação do clima, o abastecimento de mananciais de água, a qualidade de vida da população e a oferta de serviços como o lazer, a educação ambiental, a pesquisa, a recreação, o esporte, a cultura e a contemplação da natureza (https://semmas.manaus.am.gov.br/areas-protegidas/). Abordando especificamente o tópico da educação ambiental, podemos dizer que nestes espaços o ato de observar conduz a pessoa a distinguir e melhorar os conceitos formados sobre temas relacionados a biodiversidade.
PARQUE MUNICIPAL DO MINDU
Seguramente, um dos mais conhecidos fragmentos de floresta protegido da capital amazonense, onde é possível ter este contato direto com a natureza para observar, experimentar e interagir, é a Unidade de Conservação do Parque Municipal do Mindu, localizado no bairro Parque 10, na avenida Perimetral, zona centro sul.
Monumento da Fertilidade
O visitante se depara na entrada com um amplo estacionamento e um corredor de árvores entrelaçadas formando um túnel natural com a cobertura permanente dos galhos e folhas. O percurso de entrada nos conduz ao círculo central, uma espécie de coração do parque. Neste espaço, estão um chapéu de palha, onde aos fins de semana e feriados funciona um café regional com variados preços para os visitantes degustarem a comida típica amazonense.
Chapéu de palha
Arquitetura interna do chapéu de palha
O ambiente no entorno da grande choupana tem alguns brinquedos para a diversão de criançase também uma área calçada onde eventualmente são montadas barracas para comercialização de artesanato, plantas regionais e uma diversidade de produtos ofertados ao público visitante.
Há ainda nesta região central, a área administrativa do complexo e para a comunidade, um auditório com capacidade para receber até 100 pessoas, além de um anfiteatro cuja acomodação pode chegar até 700 indivíduos sentados.
Anfiteatro
No centro do parque existem vários canteiros com ervas medicinais e aromáticas. As placas indicativas orientam o público sobre as propriedades de cada planta do viveiro. A unidade de conservação tem fácil acesso e funciona de terça a domingo, das 08h às 17h, com entrada gratuita (https://semmas.manaus.am.gov.br/areas-protegidas/).
Canteiros com ervas medicinais e aromáticas
Orquidário
O parque foi criado pela a Lei nº 219 de 11 de novembro de 1993 (https://www.jusbrasil.com.br/diarios/106405031/dom-manaus-caderno1-15-12-2015-pg-35) onde no artigo 21 esta descrito: “O Parque Municipal do Mindu localiza-se às margens do igarapé do mesmo nome, envolvendo o beneficiamento da área de entorno e do próprio curso de água, mantidas suas características estruturais e ambientais”. Catorze anos após a sua criação, o parque ganhou mais espaço. A ampliação dos limites ocorreu em 22 de maio de 2007 com o decreto nº 9.043 (https://dom.manaus.am.gov.br/pdf/2020/abril/DOM%204819%2014.04.2020%20CAD%201.pdf) e com o documento, o espaço da unidade de conservação passou de 285.518 m² para 408.011,87 m². Um dos maiores atrativos do parque são suas trilhas interpretativas onde os visitantes podem fazer caminhadas orientadas ou não, com a oportunidade de explorar a diversidade da fauna e flora amazônica. Os percursos são feitos em meio a caminhos protegidos e sombreados pela floresta. Não se assuste se no percurso encontrar espécies como a cutia (Dasyprocta sp); este roedor chega a pesar até 6 kg e tem o corpo alongado com no máximo 76 cm de comprimento, pode percorrer a mata do entorno do parque dispersando sementes que caem das árvores e ajudando na disseminação das espécies da flora amazônica. Com sorte, será possível ver também outra moradora das árvores do Mindu: a preguiça (Bradypus variegatus), que com sua pelagem em tons de marrom e amarelo e o rosto com uma faixa negra contornando seus olhos, como se fosse uma máscara, percorre mansamente os galhos das árvores.
Cutia
Apesar do igarapé do Mindu estar poluído no entorno do parque, é provável que o visitante encontre ao longo da caminhada, na margem do curso d’água, o jacaré tinga (Caiman crocodilus) espécie muito comum na área urbana de Manaus. Os animais convivem com a natureza degradada provando que ainda é possível o homem intervir e minimizar o impacto da poluição no meio ambiente. A biodiversidade do Parque Municipal do Mindu inclui ainda um pequeno e frágil habitante: o macaquinho sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), animal ameaçado de extinção e que habita este pedaço de mata protegida de Manaus. As trilhas apresentam opções diversas: algumas são de chão de terra batida, outras pavimentadas para a acessibilidade a pessoas com deficiência física e ainda há algumas suspensas, com acesso por meio de escadas e pontes construídas ao longo do caminho. O Parque do Mindu é um daqueles lugares onde é possível ouvir o canto dos pássaros e sentir a brisa do vento, ouvindo ao longe o som da cidade, afinal o parque está fincando em meio a um dos bairros mais movimentados de Manaus, com grande concentração de comércio e conjuntos residenciais.
Igarape do Mindu
Jacaré Tinga
Os parques urbanos figuram na lista de espaços não formais de Manaus elencados pelos autores Seiffert Santos e Fachin-Terán (2013) em um dos livros onde estão descritas diversas pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Estudos e Pesquisas de Educação em Ciências em Espaços Não Formais (GEPECENF), vinculado à Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Dentre os parques instalados na capital amazonense, e relacionados pelos pesquisadores, destacamos: Parque Municipal do Mindu, Parque Municipal Nascente do Mindu, Parque Sumaúma, Parque Lagoa do Japiim, dentre outros (SEIFFERT SANTOS; FACHÍN-TERÁN, 2013, p. 263).
Praça da paz
Articulando ainda sobre as possibilidades pedagógicas do Parque Municipal do Mindu, o livro “Novas Perspectivas de Ensino de Ciências em Espaços Não Formais Amazônicos” traz um estudo elaborado por Cascais e Fachín-Terán (2013), no qual apresentam uma prática pedagógica intitulada “Projeto Conhecendo o Parque Municipal do Mindu”, onde foi possível promover a educação ambiental em uma visita guiada onde a interação com a natureza tornou-se a base da atividade. O estudo demonstrou ser o Parque Municipal do Mindu um ambiente privilegiado tanto para o turismo ecológico quanto para o desenvolvimento de atividades educativas.
Osteocephalus oophagus
Em outro artigo, também publicado por integrantes do GEPECENF, e cujo título é “Espaços Não Formais de Manaus e a Semana do Meio Ambiente” (https://ensinodeciencia.webnode.com.br/products/parque-e-corredor-ecologico-do-mindu/) os pesquisadores fizeram o registro de diversas atividades desenvolvidas em espaços não formais na ocasião da semana do meio ambiente. Dentre os locais visitados, estava o Parque Municipal do Mindu. O atrativo mais relevante evidenciado na pesquisa, foi a oportunidade do contato com a natureza. Relacionando com o espaço escolar, o estudo demostrou como o professor pode usar o ambiente para a prática de aulas relacionadas a temas ambientais de modo a ajudar o estudante a exercer sua cidadania e também o senso crítico a fim de promover o debate por melhorias no meio ambiente e na comunidade que o cerca.
Trilha suspensa
Afinal, seja qual for o ambiente educativo, ele colabora para ampliar o conhecimento do indivíduo que Morin (2014, p.15) chama de uma grande aventura feita por meio de descobertas da vida e do homem. E sobre o contato com a natureza, Cornell (2008, p. 17) nos mostra o quanto precisamos mudar afinal a humanidade vive em um mundo superpovoado e com alto consumo. O autor ressalta para a necessidade de mantermos o contato com a Terra e seus ambientes naturais, sua beleza e mistérios.
Portanto, diante do que vimos, podemos assegurar que parques urbanos, na condição de espaços não formais, são ambientes que podem ser usados de forma estratégica para o ensino e aprendizagem, além da opção do entretenimento e do lazer. Eles são ambientes onde é factível a educação ambiental. As visitas não devem ficar limitadas a eventos pontuais, como a semana do meio ambiente, dia da água, dentre outros tantos que constam no calendário escolar. É preciso tornar as idas aos parques um ato mais constante na vida das pessoas. O contato com a natureza é um direito de todos. E para quem gosta de parques, o Mindu é uma importante porção da biodiversidade Amazônica no meio da cidade de Manaus.
Referências:
CASCAIS, Maria das Graças Alves; FACHÍN-TERAN Augusto. Parque Municipal do Mindu: espaço de lazer, cultura e educação ambiental. Contribuição 187. XII Reunião Bienal da Rede POP. Rede Latino-Americana para Popularização da Ciência. Campinas, São Paulo, Brasil, 29 de maio a 2 de junho de 2011.
CASCAIS, Maria das Graças Alves; FACHÍN-TERÁN, A. Educação formal, informal e não formal em ciências: contribuições dos diversos espaços educativos. In: Augusto Fachín Terán; Saulo Cezar Seiffert Santos. (Org.). Novas perspectivas de ensino de ciências em espaços não formais Amazônicos. Manaus: UEA Edições, 2013, p. 130-138.
CORNELL, J. Vivências com a natureza. Tradução: ArianneBrianezi, Claudia PerussoNardi, Júlia Dojas, Rita Mendonça. 3 ed. São Paulo: Aquariana, 2008.
FERREIRA, Marcia Karina Santos; FACHÍN-TERÁN, Augusto. Espaços não formais de Manaus e a semana do meio ambiente. Trabalho apresentado no VIII Fórum de Educação Ambiental. Universidade Federal do Pará. Belém-Pará, Brasil. Belém, 03 a 06 de dezembro de 2014.
FUNDO VALE. Áreas protegidas. Rio de Janeiro: Fundo Vale, 2012. Disponível em: https://www.fundovale.org/wp-content/uploads/2016/02/fundo-vale_areas-protegidas_final.pdf. Acessado em: 02 mai. 2020.
MORIN, E. Ciência com consciência. Tradução: Maria D. Alexandre e Maria Alice Araripe de Sampaio Doria. Ed. Revista e modificada pelo autor. 16 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
SEIFFERT, S. C. S.; FACHÍN TERÁN, A. Novas perspectivas de ensino de ciências em espaços não formais amazônicos. Manaus: UEA Edições, 2013.