estudar para vencer
CORREDOR ECOLÓGICO URBANO DE MANAUS
Por:
Ercilene do Nascimento Silva de Oliveira
Augusto Fachín Terán
Introdução
A preocupação com a proteção do planeta é tema emergente e está no centro das decisões mundiais. Ter florestas preservadas e colaborar para o desenvolvimento cada vez mais sustentável tem sido o desafio de muitos governos pelo mundo.
Diante desta preocupação, em setembro de 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU), em sua sede em Nova York, delineou novos caminhos para uma vida melhor no planeta. A agenda 2030 traçou 17 objetivos e 169 metas mundiais para transformar o mundo. Nelas estão equilibradas as três dimensões para esta mudança global: a econômica, a social e a ambiental (ONU, 2015).
O documento da ONU estabelece caminhos para um desenvolvimento sustentável e resiliente. Especialmente sobre o meio ambiente, é propósito da instituição: “Proteger o planeta da degradação, sobretudo por meio do consumo e da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e tomando medidas urgentes sobre a mudança climática, para que ele possa suportar as necessidades das gerações presentes e futuras” (https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/).
Sobre o meio ambiente e as políticas públicas de preservação, o governo brasileiro instituiu em 18 de julho de 2000 o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). E, especificamente sobre as unidades de conservação, está descrito no artigo 2º que elas são: “um espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo águas jurisdicionais, com características relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob o regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” (BRASIL, 2000, p. 13).
Tratando acerca dos corredores ecológicos, o documento brasileiro apresenta os mesmos como um pedaço de ecossistema natural ou seminatural que liga unidades de conservação e possibilita o fluxo de pessoas e o movimento de espécies da fauna: “facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para a sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais” (BRASIL, 2000, p. 16).
São diversos os objetivos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Dentre eles estão: a contribuição para a manutenção da diversidade biológica, da proteção de espécies ameaçadas de extinção, da promoção do desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais, da proteção da paisagem natural e da recuperação e restauração de ecossistemas degradados (BRASIL, 2000, p. 17).
Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu
Há, em Manaus, 12 áreas protegidas em ambientes urbanos e rurais. Uma delas é o Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu (será adotado o uso das iniciais CEUM para identificar o local), o primeiro criado na capital amazonense (https://semmas.manaus.am.gov.br/areas-protegidas/). Instituído pelo decreto de nº 9.329 de 26 de outubro de 2007, com fins de proteção ambiental, o CEUM tem uma área compreendida em 195,25 hectares. De acordo com a documento de criação, o corredor margeia o igarapé do Mindu e percorre a cidade interligando diversos ambientes protegidos por lei.
Corredor Ecológico Urbano do Mindu (Fonte Google Maps)
O primeiro deles, onde o corredor emerge e inicia sua jornada de interligação, é o Parque das Nascentes, no bairro Cidade de Deus, na zona leste de Manaus. O local é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral e surgiu pelo decreto municipal nº 8.351/2006 com a finalidade de proteger e preservar três das principais nascentes de onde se origina o Igarapé do Mindu. O espaço tem trilhas interpretativas onde é possível passear ou aplicar atividades de Educação Ambiental.
Cerca que separa o Conjunto Villar Câmara do Corredor Ecológico
Ao sair do ambiente das nascentes, o Mindu percorre bairros populosos e chega a conjuntos habitacionais com grandes extensões de áreas verdes para moradores e população em geral desfrutar de espaços com maior interação da natureza. O Conjunto Villar Câmara, ao lado do Conjunto Tiradentes, é um desses complexos habitacionais vizinhos ao CEUM. Nele é possível conhecer um pouco da diversidade da fauna e flora da região. No ambiente, por exemplo, existem vários exemplares de Sumaúma (Ceiba pentandra), árvore amazônica de grande porte e uma altura máxima de 50 metros com até 2 metros de diâmetro em seu tronco (SOUZA, 2005, p. 10).
Árvore de Sumaúma (Ceiba pentandra)
Caramujo Africano (Achatina fulica). Especie invasora.
No entorno do corredor e ao longo destes conjuntos, é factível, além das práticas de entretenimento e lazer, a realização de atividades pedagógicas. Muitas foram relatadas em artigos científicos com a liderança do pesquisador Augusto F. Terán, doutor em Ecologia e professor do curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia, da UEA. O Dr. Terán empreende com regularidade, atividades com alunos de graduação e pós-graduação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) no entorno do CEUM. Pequenos animais, como a formiga saúva ou cortadeira (Atta) ou o caramujo africano (Achatina fulica), dentre outros bichos, são observados em praticas de campo, a fim de identificação de condutas educativas que possam levar a melhores práticas para o ensino de Ciências.
Atividades de ensino e pesquisa com crianças pequenas
Seguindo o curso que interliga áreas protegidas, o Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu encontra um ambiente privado e preservado: a Reserva Particular do Patrimônio Natural da Honda (https://www.honda.com.br/noticias/honda-brasil-tem-case-de-sustentabilidade-reconhecido-entre-os-melhores-da-marca-no-mundo), localizado na Colônia Japonesa. A reserva ocupa uma área de 16 hectares e tem um fragmento de floresta em meio urbano onde habitam espécies ameaçadas de extinção, como o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor). Ressalta-se que o habitat natural do saium-de-coleira está nas matas de Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara. O animal passou a figurar desde 2018 em uma lista onde estão os 25 primatas mais ameaçados de extinção do mundo (Alves et al., 2019, p. 13)
Sauim-de-coleira (Saguinus bicolor)
Árvores de buriti
Seguindo o curso d’água de conexão, o corredor encontra outra área preservada e aberta à visitação: o Parque Municipal do Mindu (https://ensinodeciencia.webnode.com.br/news/parque-municipal-do-mindu/), criado pelo decreto nº 9.043/2007 e cuja extensão de 40,8 hectares, no bairro do Parque 10, abriga, além do sauim-de-coleira (S. bicolor), outras espécies da fauna amazônica, como o jacaré tinga (Caiman crocodilus). É possível ainda encontrar no local uma diversidade de plantas da flora amazônica, inclusive espécies medicinais, tudo acessível aos visitantes.
Igarapé do Mindu
Jacaré Tinga (Caiman crocodilus)
Percorrendo um pouco mais, e passando por outras áreas habitacionais e comerciais, o CEUM chega ao seu ponto final: o Parque dos Bilhares (https://semmas.manaus.am.gov.br/parques-e-pracas/), na zona centro sul da cidade, entre as avenidas Djalma Batista e Constantino Nery. Em funcionamento desde 2006, o parque urbano, além do entretenimento e do lazer, é também mais um espaço preservado na capital amazonense.
O Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu já foi ambiente para diversas pesquisas de mestrandos do Programa de Programa de Pós Graduação em Educação e ensino de Ciências na Amazônia da UEA e integrantes do Grupo de Estudo e Pesquisa de Educação em Ciências em Espaços Não Formais (GEPECENF), vinculado ao mestrado, na Escola Normal Superior. Os estudos objetivam, em sua maioria, buscar alternativas de propostas pedagógicas para o uso no ensino de Ciências com a temática amazônica. Em um levantamento recente, feito na base do site do GEPECENF (https://ensinodeciencia.webnode.com.br/), usando como referencial os anos de 2014 até 2020, é possível observar a publicação de 09 trabalhos com o contexto do CEUM.
Ano de Publicação |
Título do Artigo |
Autores |
2014 |
Possibilidades de Ensinar Ciências no Corredor Ecológico do Mindu, Manaus – Am. |
Orleylson Cunha Gomes; Paula do Carmo da Silva Martins; Jeane Torres da Silva; Salatiel da Rocha Gomes; Augusto Fachín Terán. |
2014 |
Público escolar que visita os espaços não formais de Manaus durante a semana do meio ambiente. |
Marcia Karina Santos Ferreira; Augusto Fachín Terán.
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2015 |
Relato de Experiência em educação ambiental a partir de uma prática no Corredor Ecológico do Mindu. |
Lívia Amanda Andrade de Aguiar; Renata Gomes Cunha; Patrícia Lisboa de Aguiar; Augusto Fachín Terán. |
2017 |
Experiência de ensino-aprendizagem sobre problemáticas ambientais urbanas no Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, Manaus, Am. |
Alexandra Nascimento de Andrade; Augusto Fachín Terán; Elder Tânio Gomes de Almeida; Geysykaryne Pinheiro de Oliveira; Erika da Costa Batista; Clorijava de Oliveira Santiago Júnior. |
2018 |
Corredor Ecológico do Mindu como espaço para se desenvolver tendências do Ensino de Ciências |
Adana Teixeira Gonzaga; Ana Caroline Lima de Souza; Rafael Gonçalves Brito; Augusto Fachín Terán. |
2018 |
Corredor Ecológico Urbano do Mindu: um relato de experiência sobre práticas de Educação Ambiental. |
Fabrícia Souza da Silva; Lindalva Samela Jacauna de Oliveira; Augusto Fachín Terán; Ailton Cavalcante Machado. |
2018 |
Experiência prática sobre Ensino de Ciências no Corredor Ecológico Urbano do Mindu. |
Rosângela Carmelo da Silva Rivera; Sandra de Oliveira Botelho; Tânia Maria Cortez de Medeiros; Augusto Fachín Terán. |
2018 |
Relato de experiência sobre o Ensino de Ciências no Corredor Ecológico Urbano do Mindu, Manaus, Amazonas, Brasil. |
Joisiane da Silva Feio; Francinete Bandeira Carvalho; Glenda Gabriele Bezerra Beltrão; Augusto Fachín Terán.
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2020 |
Corredor Ecológico do Mindu e seu potencial para o Ensino de Ciências |
Márcia Cristina Borges Barnabé; Sandra de Oliveira Botelho; Tânia Maria Cortêz de Medeiros; Ciro Felix Oneti; Augusto Fachín Terán. |
No artigo “Experiência de ensino-aprendizagem sobre problemáticas ambientais urbanas no Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, Manaus, Am” (https://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2678) os autores buscaram ambientes onde fosse possível ter contato com a natureza e correlacionar o tema ambiental com a problemática das questões urbanas, a fim deconstruir o conhecimento por meio da observação e experimentação de prática relacionadas ao conteúdo do currículo.
Há dois artigos publicados em 2018 que podemos destacar. O primeiro deles com o título “Corredor Ecológico do Mindu como espaço para se desenvolver tendências do Ensino de Ciências” (https://ensinodeciencia.webnode.com.br/products/parque-e-corredor-ecologico-do-mindu/) objetivou reconhecer as principais tendências pedagógicas possíveis no CEUM. Ao longo do artigo científico foram evidenciadas diversas possibilidades de desenvolver práticas com o ensino de Ciências em um espaço não formal público e aberto como as margens do igarapé do Mindu. Na experiência, por meio de uma aula prática, os participantes observaram a mata ciliar nas margens do igarapé, cuja função é proteger os cursos d’água. Embora as árvores estejam em ambiente preservado, foi possível identificar inúmeros pontos de poluição ocasionados pela ação humana.
No artigo “Corredor Ecológico Urbano do Mindu: um relato de experiência sobre práticas de Educação Ambiental” (https://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=3514 ) os autores buscaram enfatizar a importância do CEUM como ambiente para a Educação Ambiental. E vislumbraram possibilidades de pesquisas ambientais usando, por exemplo, a problemática de animais e plantas invasores e a riqueza da biodiversidade apresentada ao longo do curso do igarapé.
O trabalho publicado em 2020 sobre o CEUM com o título “Corredor Ecológico do Mindu e seu potencial para o Ensino de Ciências” (https://ensinodeciencia.webnode.com.br/products/parque-e-corredor-ecologico-do-mindu/) visou um estudo tendo por base um ambiente não institucionalizado para o ensino de Ciências usado para práticas com professores da educação básica para diversificar o processo de ensino e aprendizagem voltado às Ciências. Ao abordarem a legislação brasileira relacionada à questão ambiental, os autores destacaram o fato das instituições por meio de seus educadores, necessitarem usar ambientes educativos fora do espaço escolar para propiciar uma prática diferenciada no ensino.
As práticas apresentadas nos artigos corroboram com a agenda 2030 estabelecida pela ONU em 2015, quando relacionamos com o objetivo de número quatro da ONU, cuja recomendação prevê a educação inclusiva e equitativa, com o destaque para a criação de oportunidades de aprendizagem em ambientes diversos, institucionalizados ou não.
E o Corredor Ecológico Urbano do Mindu indubitavelmente tem potencial para levar às gerações de crianças, jovens, adultos e idosos da Amazônia, o entretenimento, o lazer e o ensino, tornando possível a contemplação do ambiente natural, protegido e preservado.
Referências
ALVES et al. Guia de atividades didáticas: animais ameaçados de extinção. Manaus: CEPAM, ICMBio, 2019.
ANDRADE, A.N.; FACHÍN-TERÁN, A.; ALMEIDA, E.T.G.; OLIVEIRA, G.P.; BATISTA, E.C.; SANTIAGO JUNIOR, C.O. Experiência de ensino-aprendizagem sobre problemáticas ambientais urbanas no corredor ecológico urbano do igarapé do Mindu, Manaus, AM. Educação ambiental em ação, v. XV, n.59, p. 1-8, 2017.
BARNABÉ, M.C.B.; BOTELHO, S.O.; MEDEIROS, T.M.C.; ONETI, C.F.; FACHÍN-TERÁN, A. Corredor Ecológico do Mindu e seu potencial para o Ensino de Ciências. Educação Ambiental em Ação, v. XVIII, n.70, p. 1-16, 2020.
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 e vetos da presidência da República ao PL aprovado pelo congresso Nacional. Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza – SNUC: 2ª edição ampliada. São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 2000.
ONU. Transformando nosso mundo: a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf. Acessado em: 17 de mai. 2015.
SILVA, F.S.; OLIVEIRA, L.S.J.; FACHÍN-TERÁN, A.; MACHADO, A.C. Corredor ecológico urbano do Mindu: um relato de experiência sobre práticas de educação ambiental. Educação ambiental em ação, v. XVII, p. 1-15, 2018.
SOUZA, R.C de. et al. Sumaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaerth). Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2005.